18 de fevereiro de 2013

Relatos de uma ex-drogada



“Nada melhor que um dia após o outro... Que ironia do destino! Depois de 37 anos de idade fui conhecer o mundo das drogas e para piorar fui direto ao crack, nome este que antes só tinha grandes personalidades do esporte, irônico, não? Mundo sub-humano que me tirou tudo que eu tinha. Pedi ajuda á minha família para me internar e a resposta foi o abandono. Literalmente o abandono! Por pura ignorância no assunto acharam melhor me negar o mais importante em um tratamento contra as drogas: o apoio e o amor. Talvez eles, a minha família, por pura covardia preferiram enfiar a cabeça em um buraco. Isso mesmo agiram como um avestruz e ignoraram o meu pedido de socorro. Não me restou alternativa a não ser me envolver mais e mais no mundo das drogas, um mundo até então desconhecido por mim e por milhões de pessoas que caminham por essa estrada. Cheguei a usar 8, e até 10 pedras de crack por dia. Sempre vendendo e me desfazendo de tudo que eu tinha para alimentar o meu vício. Quando me faltava a pedra, não pensava duas vezes em vender as minhas roupas, sandálias, sapatos e botas, tudo de marca. Quando não tinha mais os objetos pessoais para vender passei a me desfazer também dos utensílios domésticos. Cheguei a vagar pelas ruas e ficar 10, 15 dias sem comer. Ou melhor, eu comia e bebia o crack. Quando um dia sentada na porta de uma banca de revistas passou um homem simples, guiando um fusquinha velho e me perguntou: _ “Ôh moça, porque você está tão triste? Tá com fome? Eu mal respondi e me afastei daquele local. Não queria ser incomodada! O tempo passou e eu continuei vagando e percorrendo os corredores e becos das drogas. Certo dia resolvi aparecer em um clube da cidade, e por coincidência lá estava aquele homem novamente! Era como se ele fosse o meu Anjo da Guarda me estendendo as mãos. Mais uma vez tentei ignorá-lo e, quando me preparava para sair com uma turma para consumir mais drogas, ele me abordou novamente e não sei com que coragem me disse que eu não iria a lugar algum antes de conversar com ele. Relutei em falar com aquele homem, e para me ver livre daquela figura disse para ele se afastar de mim, pois eu era uma drogada. Ignorando a minha grosseria e o meu desprezo, ele simplesmente me perguntou se eu queria ajuda. Nessa hora não contive as lágrimas e deixei o pranto rolar pelo meu rosto sofrido. Em poucas palavras respondi que “ajuda” era o que eu mais queria, mas já tinha perdido as esperanças. Calmo e com a voz pausada ele disse que iria me ajudar. Sem me perguntar muita coisa ele conseguiu me internar em uma clínica particular. Fui levada para a Santa Luíza de Marilac, em João Monlevade. Passei por vários exames exigidos pela clínica, e confesso que durante os exames eu sempre encontrava uma maneira de me drogar. Enquanto aguardava a internação eu me envolvia em várias confusões. E ele sempre ali me estendendo a mão para me livrar dos apuros. Até que chegou o meu dia e fui internada. Durante os meses que fiquei recolhida na clínica, esse homem era a única visita que eu tinha. Quando deixei a clínica ele alugou uma casa e me levou prá morar com ele. Foi difícil me reerguer, mas com a ajuda daquele homem e uma dosagem de medicamentos eu posso garantir que “consegui!” Já faz três anos que vivo com esse homem, com esse “Anjo da Guarda” que me ajudou a sair daquele mundo até então, sem volta. Hoje estamos juntos, eu e o João. Dentro de poucos meses seremos três, eu o João e o nosso filho que vai nascer. As drogas me levaram tudo, mas Deus me deu uma chance de voltar a ser uma pessoa digna de novo. Ainda enfrento preconceitos, mas isso não é nada diante do que vivi. O vício tem jeito, não é um caminho sem volta como muitos pensam. Eu consegui e todos também podem conseguir. É só ter fé em Deus e um ombro amigo para se apoiar. Ás vezes Deus coloca um estranho no nosso caminho com a missão de nos socorrer. Isso aconteceu comigo. Fui abandonada pela minha família e ganhei uma nova família” – (M.A.G é natural de Itabira e reside em João Monlevade – Contato: 31-8783.5885

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