“Contei meus
anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já
vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele
menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou
displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo
para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos
inflados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para conversas
intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem
parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que
apesar da idade cronológica, são imaturas. Detesto fazer acareação de desafetos
que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. As pessoas não
debatem conteúdos, apenas rótulos. Meu tempo tornou-se escasso para debater
rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa. Sem muitas jabuticabas na
bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana, que sabe rir de seus
tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora,
não foge de sua mortalidade...Só há que caminhar perto de coisas e pessoas de
verdade. O essencial faz a vida valer a pena.” (Coluna do José Lino)
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