“Nada melhor
que um dia após o outro... Que ironia do destino! Depois de 37 anos de idade
fui conhecer o mundo das drogas e para piorar fui direto ao crack, nome este
que antes só tinha grandes personalidades do esporte, irônico, não? Mundo
sub-humano que me tirou tudo que eu tinha. Pedi ajuda á minha família para me
internar e a resposta foi o abandono. Literalmente o abandono! Por pura
ignorância no assunto acharam melhor me negar o mais importante em um
tratamento contra as drogas: o apoio e o amor. Talvez eles, a minha família, por
pura covardia preferiram enfiar a cabeça em um buraco. Isso mesmo agiram como
um avestruz e ignoraram o meu pedido de socorro. Não me restou alternativa a
não ser me envolver mais e mais no mundo das drogas, um mundo até então
desconhecido por mim e por milhões de pessoas que caminham por essa estrada.
Cheguei a usar 8, e até 10 pedras de crack por dia. Sempre vendendo e me
desfazendo de tudo que eu tinha para alimentar o meu vício. Quando me faltava a
pedra, não pensava duas vezes em vender as minhas roupas, sandálias, sapatos e
botas, tudo de marca. Quando não tinha mais os objetos pessoais para vender
passei a me desfazer também dos utensílios domésticos. Cheguei a vagar pelas
ruas e ficar 10, 15 dias sem comer. Ou melhor, eu comia e bebia o crack. Quando
um dia sentada na porta de uma banca de revistas passou um homem simples,
guiando um fusquinha velho e me perguntou: _ “Ôh moça, porque você está tão
triste? Tá com fome? Eu mal respondi e me afastei daquele local. Não queria ser
incomodada! O tempo passou e eu continuei vagando e percorrendo os corredores e
becos das drogas. Certo dia resolvi aparecer em um clube da cidade, e por
coincidência lá estava aquele homem novamente! Era como se ele fosse o meu Anjo
da Guarda me estendendo as mãos. Mais uma vez tentei ignorá-lo e, quando me
preparava para sair com uma turma para consumir mais drogas, ele me abordou
novamente e não sei com que coragem me disse que eu não iria a lugar algum
antes de conversar com ele. Relutei em falar com aquele homem, e para me ver
livre daquela figura disse para ele se afastar de mim, pois eu era uma drogada.
Ignorando a minha grosseria e o meu desprezo, ele simplesmente me perguntou se
eu queria ajuda. Nessa hora não contive as lágrimas e deixei o pranto rolar
pelo meu rosto sofrido. Em poucas palavras respondi que “ajuda” era o que eu
mais queria, mas já tinha perdido as esperanças. Calmo e com a voz pausada ele
disse que iria me ajudar. Sem me perguntar muita coisa ele conseguiu me
internar em uma clínica particular. Fui levada para a Santa Luíza de Marilac,
em João Monlevade. Passei por vários exames exigidos pela clínica, e confesso
que durante os exames eu sempre encontrava uma maneira de me drogar. Enquanto
aguardava a internação eu me envolvia em várias confusões. E ele sempre ali me
estendendo a mão para me livrar dos apuros. Até que chegou o meu dia e fui
internada. Durante os meses que fiquei recolhida na clínica, esse homem era a
única visita que eu tinha. Quando deixei a clínica ele alugou uma casa e me
levou prá morar com ele. Foi difícil me reerguer, mas com a ajuda daquele homem
e uma dosagem de medicamentos eu posso garantir que “consegui!” Já faz três
anos que vivo com esse homem, com esse “Anjo da Guarda” que me ajudou a sair daquele
mundo até então, sem volta. Hoje estamos juntos, eu e o João. Dentro de poucos
meses seremos três, eu o João e o nosso filho que vai nascer. As drogas me
levaram tudo, mas Deus me deu uma chance de voltar a ser uma pessoa digna de
novo. Ainda enfrento preconceitos, mas isso não é nada diante do que vivi. O
vício tem jeito, não é um caminho sem volta como muitos pensam. Eu consegui e
todos também podem conseguir. É só ter fé em Deus e um ombro amigo para se
apoiar. Ás vezes Deus coloca um estranho no nosso caminho com a missão de nos
socorrer. Isso aconteceu comigo. Fui abandonada pela minha família e ganhei uma
nova família” – (M.A.G é natural de Itabira e reside em João Monlevade –
Contato: 31-8783.5885
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